quinta-feira, dezembro 16, 2010
terça-feira, novembro 23, 2010
O dedo os dedos
este undécimo dedo dos meus dedos
clarividente cego entre os meus dedos
conhece-te melhor do que os meus dedos
Percorre-te por dentro Encontra dedos
os dedos que por dentro de ti dedos
mais dentes são gengivas do que dedos
mais palatos em fogo do que dedos
E súbito pergunto Que é dos dedos
ó mais unhas por fora do que dedos
ó mais luva por dentro do que dedos
Mas eis de novo dedos dedos dedos
apertando em seus dedos ah tão dedos
o dedo mais que dedo dos meus dedos
David Mourão – Ferreira
[Matura Idade, 1973]
terça-feira, novembro 16, 2010
terça-feira, novembro 02, 2010
terça-feira, outubro 12, 2010
domingo, outubro 10, 2010
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.
À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.
Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.
Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.
Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.
Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.
Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranqüilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.
Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.
Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.
O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.
Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.
Ricardo Reis
segunda-feira, outubro 04, 2010
De otro, de ningún, todo en mi es naufragio
Y la ternura, leve como el agua y la harina
Y la palabra apenas comenzada en los labios.
Todo en ti fue naufragio!
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Pablo Neruda
quinta-feira, junho 24, 2010
Angústia de ser escravo do outro
A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade de dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só nasceste escravo.
Ainda não consegui não sofrer com a minha solidão. Tão difícil é obter aquela distinção de espírito que permita ao isolamento ser um repouso sem angústia.
Fernando Pessoa
terça-feira, junho 15, 2010
segunda-feira, abril 05, 2010
Phosphatidylinositol-4-Phosphate Phosphatase
domingo, abril 04, 2010
Bullshiting a way out
Pan leu e gostou de...
"A novia de Odessa" de Edgardo Cozarinsky
"(...) Lisboa hace hitos turísticos de sus glorias defuntas. El visitante que se fotografía junto a la estatua de bronce de Pessoa (...) es probable que no suspeche hasta qué punto la extrema singularidad de esa obra es típica, por lo excepcional, del destino del país que vio nascer a su autor, de la ciudad donde vegetó oscuramente. "
quinta-feira, março 11, 2010
Gente feliz com lágrimas
Por estes dias lembrei-me deste livro de João de Melo e ocorreu-me pensar que é bem mais difícil sorrir que chorar. Curioso, não? Mas não há lágrima que não seque e sorriso que não volte. E ainda que por um só momento, dei por mim a cantar Just be thankful for what you've got...
domingo, fevereiro 21, 2010
D'une finesse sublime
Not so often do we find yourselves overwelmed by the sublime beauty of a song. This lady overwelmed me yesterday.
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
O Livro de Segunda
Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais - se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida.
O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu - a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim - sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um "o que será dele?". E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.
do Livro do Desassossego
sexta-feira, fevereiro 05, 2010
O rasto alegre de uma lesma!
quarta-feira, janeiro 27, 2010
Acordar tarde
Eis o que tenho feito ultimamente - acordar tarde. Que mais resta fazer neste Inverno escuro e frio?
segunda-feira, janeiro 25, 2010
domingo, janeiro 24, 2010
Um cigarro e um beijo
Acedeste ao meu desejo
E tu num gesto bizarro
Em troca pediste-me um beijo
Com esta troca afinal
Que fizemos a brincar
O bolo nao era igual
E tu ficaste a ganhar
Mas a culpa foi só minha
Beijar por coisa tão pouca
Não sei o que o beijo tinha
Que queimou a minha boca
do Fado cantado por Saudade dos Santos
sábado, janeiro 23, 2010
quarta-feira, janeiro 20, 2010
jorge palma - tudo por um beijo
Gosto desta música
Gosto de Lisboa
Gosto do sol de Lisboa
Gosto das ruas e ruelas
Gosto de ter passado por aqui
Adoro todos aqueles que partilharam estes momentos comigo
Este clip podia bem ter sido feito por nós
terça-feira, janeiro 19, 2010
...quanto vale um beijo
não há como o Jorge Palma para nos embalar com as verdades da vida, "enquanto houver ventos e mar... "
terça-feira, janeiro 12, 2010
Samba de Bênção - Vinicius de Moraes e Toquinho
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Beijinhos
segunda-feira, janeiro 11, 2010
Acabou de passar na rádio, pena não existir no utubo
Talvez possamos falar do que já lá vai que as vezes ainda dói
Da coragem esquecida que já se perdeu
quem deixou por dizer foste tu ou fui eu
da lembrança guardada num canto qualquer
da palavra apagada por não se entender
e dizer-te num gesto mais enternecido
Sabes, eu também ando um bocado perdido.
Vou preparar-te um jantar, concerteza vou ser original
E vou escolher-te um bom vinho. Tu sabes, nunca me saí mal
Vou falar-te das voltas que a vida trocou
Das verdades que o tempo já entrelaçou
Entre sonhos queimados lançados ao vento
Entre a cor de um sorriso e o tom de um lamento
E dizer-te de um sopro empurrado pela sorte
Sabes, eu também ando um bocado sem norte
Olha, não fiz sobremesa. Deixa lá, fica para a outra vez
Vamos deixar mais um copo a falar dos quês e dos porquês
Uma historia que nos apeteça lembrar
Um episódio que nunca nos deu para contar
Um segredo guardado p’lo cair do pano
Um encontro marcado no cais do engano
E dizer-te na hora em que a voz fraquejar
Sabes, eu também me apetece chorar
E vou chamar um táxi. É hora p’ra te levar a casa
Era suposto um de nos nesta altura ficar com a alma em brasa
Mas a vida é assim, não aconteceu
Pouco importa dizer, foste tu ou fui eu
O que importa é o abraço que estava por dar
Há-de haver uma próxima e mais um jantar e
E dizer-te a sorrir já passa das três
Dorme bem, quem sabe … um dia talvez.
domingo, janeiro 10, 2010
Leitura de Domingo
Deixar para trás o berço cultural e mergulhar na multitude de outras Histórias, faz-me sempre questionar coisas que antes pareciam óbvias. Faz-me parar e pensar porquê. Hoje reli avidamente o célebre discurso de Antero de Quental, proferido em Lisboa em 1871: As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. Aqui fica um excerto:
O que realmente fomos; nulos, graças à monarquia aristocrática!,Essa monarquia, acostumando o povo a servir, habituando-o à inércia de quem espera tudo de cima, obliterou o sentimento instintivo da liberdade, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa; quando mais tarde lhe deram a liberdade, não a compreendeu; ainda hoje a não compreende, nem sabe usar dela. As revoluções podem chamar por ele, sacudi-lo com força: continua dormindo sempre o seu sono secular!
Dorme ainda Portugal?
quarta-feira, janeiro 06, 2010
The soundtrack of unfairness
Unfair is waiting in vain,
Chained to a love that should have set you free.
A love that was no more than the taste of
Two dreamers dreaming away,
Dissolving like rain.
segunda-feira, janeiro 04, 2010
O futuro será vosso
Ainda há coisas que o cara-livro não substitui...ah!
"Pudesse eu ser o mar e os meus desejos
Eram ir borrifar-lhe os pés, com beijos."
Cesário Verde
Da minha breve estadia na capital do império trouxe para além dos sempre-presentes livros, um exemplar desse almanaque prestigiado que é o Borda d' Água. A despeito do usual rame-rame, olhei com mais atenção e encontrei já na última página, quase à beira do rodapé, o seguinte conselho, que muito apreciei e convosco partilho:
"Aos jovens digo para não ficarem parados, olhem sempre para a frente, o futuro será vosso. O caminho faz-se caminhando (...) Exercitem a argumentação; ponderem as vossas teses e deixem que os outros possam convosco debater, mas afastem-se da manipulação, sejam verdadeiras pessoas. "
Isto, meus amigos, é sabedoria popular.